25 abril, 2012

Sobre escrever




Minha familía sempre foi muito autodidata. Se você quisesse aprender o que quer que fosse aprenderia sozinho. Segundo minha mãe se você aprendesse sozinho aprenderia do seu jeito, tendo em vista as suas limitações e o que facilitasse ou dificultasse a forma como as coisas seriam absorvidas pelo seu cérebro. Foi assim que aprendi a tocar violão - apesar de hoje em dia quase não saber nada - cozinhar, desenhar usando técnicas de sombra - por favor não me peçam para desenhar nada, isso faz muito tempo -  a fazer tranças, e é claro a escrever.
Eu escrevia sobre asbolutamente qualquer coisa, sobre o dia estar bonito, sobre a cor nova do cabelo de uma das minhas primas ou sobre a nova adoção animal da minha família. Tudo era um motivo para colocar em prática o uso das palavras, era um hobby para mim eu adorava, podia passar o dia inteiro escrevendo e ainda assim de alguma forma - mesmo sem nem saber que existia uma faculdade de jornalismo, letras... - eu sabia que não havia limites para o uso das palavras.
Com as palavras certas você poderia lavar a alma ou sujar a reputação de alguém, dizer o quanto alguém era especial ou o quanto a existência de algo era desprezível. Ao descobrir isso passei a escrever coisas mais elaboradas, era impressionante a forma como as palavras simplesmente saíam, não havia pressão nenhuma apenas uma adolescente sentado embaixo de uma árvore no quintal escrevendo suas fantasias, viagens, sonhos e desejos mais secretos para que eles nunca se apagassem. Não havia medo de errar, de escrever pouco ou demais ou mesmo da página em branco, mas de repente algo mudou.
Na faculdade é preciso escrever dentro das regras. Seja parcial. Não seja repetitiva. Não escreva essa palavra, e sim aquela! Siga as regras garota e você nunca errará! Alguns diziam, mas eu não conseguia seguir as regras pelo menos não à risca, sempre havia um ponto em que o texto expressava uma opinião minha e lá vai eu refazer tudo de novo.
Com o tempo as palavras que vinham fácil deixaram de vir, o medo de errar cresceu, o medo de escrever demais ou de menos também começou a aparecer lentamente e a página em branco passou a ser minha maior inimiga. Eu sempre me perguntava o que fazer quando meu professor me pedia para escrever uma matéria, os textos pareciam ruins demais, coisas que jamais despertariam o interesse de ninguém há não ser o meu. Além disso eu não estava acostumada a aprender com outras pessoas me dizendo o que fazer, dizendo que o jeito certo era aquele ou esse, eu aprendia as coisas do meu jeito e foi o que decidi fazer para que a folha não ficasse em branco para sempre.
Ao invés de seguir simplesmente o modelo que me foi dado eu criei um modelo de matéria pessoal, baseado é claro em outras pessoas, em textos que li e gostei e criei assim uma coisa que tivesse haver comigo. E tudo ficou mais simples, o texto menos forçado e o medo foi se tornando diminuto. É claro, com o tempo entendi que os modelos eram somente para ajudar, para dar um caminho e não um padrão que sem tem a obrigação de seguir.
E mesmo depois de tudo isso ainda acho que os melhores textos são os que simplesmente saem, os que não tem hora certa para serem escritos ou temas pré-definidos. Os melhores textos são os que escrevemos quando não pensamos em escrever o melhor texto!

- Quésia Mello

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