19 maio, 2012

O Cheiro



Uma vez em algum programa desses horríveis que passam no fim de semana, vi algum “cientista” dizendo que a lembrança mais marcante para o ser humano é a memória olfativa, ou seja, o cheiro. Segundo o “cientista” se você sente um cheiro, mesmo que na infância, quando adulto se você o sentir novamente seria capaz de despertar a lembrança da primeira vez que o sentiu.
Fiquei pensando nisso e percebi que pelo menos para mim, a teoria funcionava na prática. Lembro-me de todos os cheiros da minha infância e de alguns da adolescência, mas com toda certeza os da infância são os mais marcantes, pode até parecer pretensão minha, mas é verdade.
Entre os cheiros mais marcantes para mim estão os fins de semana na casa da minha avó, tinha um cheiro de acolhimento, de segurança, de cocada feita na hora, de peixe cozido com cheiro-verde e do feijão – que por sinal até hoje é magnífico – temperado com pimenta de cheiro, este último nitidamente vivo até hoje.
Outro cheiro importante era o da rua onde morei até os dezoito anos, tinha cheiro de goiaba madura e criança empoeirada com as mãos sujas de barro vermelho e de manga fazendo lama no quintal. Não me pergunte como memorizei isso, acho que cada pessoa memoriza o cheiro que acha importante guardar consigo para sempre, o cheiro da minha infância, o cheiro que era livre de preocupações, cheiro de sorriso bobo e de abraços apertados, esses cheiros nunca esquecerei. Tenho certeza disso.
Entretanto, o cheiro mais importante da minha vida é o da minha mãe. É um perfume totalmente singular – não sei se todo filho tem isso, ou só eu – mas o cheiro da minha mãe é daqueles que não se pode colocar em um vidrinho e vender. Tem cheiro de paz, de roupa com amaciante, cheiro de cafuné, cheiro de coisa viva, de banana madura frita no café da manhã e principalmente cheiro de esperança. Sabe aquele cheiro que tem o dia quando vai amanhecendo? É esse. É exatamente esse o cheiro que minha mãe tem. Cheiro de dia novo nascendo no horizonte.


- Quésia Mello

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