Confesso que tenho medo
de envelhecer, conheço a rotina de idosos desde criança, não em minha casa, mas
nas casas vizinhas. A maioria dos idosos reclamava do som auto no vizinho da
frente, do tempo ter mudado tão rapidamente e deixar de lembrança uma gripe... da
dor que sentiam em um joelho e que isso era sinal de frio chegando... de não
poderem se locomover com tanta facilidade ou precisão e principalmente de
depender dos filhos, netos... e por aí
vai. Entretanto, até aquele momento eu não havia parado para ouvir essas
pessoas, eu sempre considerava uma total perda de tempo sentar e ouvir
histórias tão antigas quanto à criação do universo. Além do mais, dizia para
mim mesma que devia aproveitar a vida, já que um dia me tornaria uma idosa
também.
E então uma vez minha
mãe me chamou para ir tomar uma sopa na vizinha – que acho já tem mais de 60
anos – no primeiro momento não gostei muito da idéia, fiquei pensando naquele
monte de gente “velha” falando de doenças, remédios, perdas..., mas fui. E só
então quando a conversa começou e percebi o que tinha perdido. Era uma mulher
simples, que cresceu no seringal cortando seringa e fazendo látex, casou-se
cedo demais, até aquele momento cuidava do marido que na juventude a traía sem
nem mesmo fazer questão de esconder. Suas filhas haviam se casado muito cedo e
sofriam o mesmo que ela nas mãos dos maridos, não estudaram e trabalhavam por
uma remuneração muito baixa, mas acima de tudo ela disse que era feliz, que
havia sofrido muito sim, mas que aprendeu a superar e tentar não lembrar das
feridas que ainda não haviam cicatrizado.
Quando cheguei em casa
perguntei a minha mãe sobre como era o meu avô. “Ah, o seu avô?” Ela perguntou
rindo. “Seu avô era um homem incrível, ele sabia a hora exata só de olhar para
o céu, acredita? Ele sabia qualquer coisa que quisesse saber sobre qualquer
vulcão existente no mundo, ele adorava ler sobre vulcões. Ele era um mulherengo
de primeira, se ele chegasse em um cabra e dissesse “hoje a sua mulher vai
dançar comigo na festa!” não tinha para mais ninguém o cabra entregava a mulher
e ia para casa cuidar dos filhos. Era um baixinho “arretado” e ligeiro que só
ele, se ele dissesse “vou indo na frente” você não acompanhava mais ele de
jeito nenhum. E te chamava de “Chico”, acho que ele queria um neto homem.”
E fiquei pensando sobre
envelhecer... fiquei pensando sobre como nós “inutilizamos” as pessoas
simplesmente por sua idade, que a afastamos do mercado de trabalho dando a elas
um atestado de “inutilidade” chamado “aposentadoria”. Fiquei pensando sobre
como nós não damos atenção à eles por não julgarmos importante o que eles tem a
dizer, quando na verdade eles sabem muito bem o que dizem.
Não perdi meu medo de
envelhecer, mas perdi o medo de ter histórias fantásticas para contar e lembrar,
perdi o medo de me sentir tão viva quanto um adolescente. Eu descobri que
envelhecer não me impede de sentir as coisas ou as pessoas, muito menos de
sorrir e achar a um bom motivo para manter-se vivo. Muito pelo contrário, posso
até mesmo afirmar que existem - e conheço - idosos bem mais vivos e ativos que eu por aí, envelhecer não é parar de viver.
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