04 maio, 2012

Sobre envelhever...



Confesso que tenho medo de envelhecer, conheço a rotina de idosos desde criança, não em minha casa, mas nas casas vizinhas. A maioria dos idosos reclamava do som auto no vizinho da frente, do tempo ter mudado tão rapidamente e deixar de lembrança uma gripe... da dor que sentiam em um joelho e que isso era sinal de frio chegando... de não poderem se locomover com tanta facilidade ou precisão e principalmente de depender dos filhos, netos...  e por aí vai. Entretanto, até aquele momento eu não havia parado para ouvir essas pessoas, eu sempre considerava uma total perda de tempo sentar e ouvir histórias tão antigas quanto à criação do universo. Além do mais, dizia para mim mesma que devia aproveitar a vida, já que um dia me tornaria uma idosa também.
E então uma vez minha mãe me chamou para ir tomar uma sopa na vizinha – que acho já tem mais de 60 anos – no primeiro momento não gostei muito da idéia, fiquei pensando naquele monte de gente “velha” falando de doenças, remédios, perdas..., mas fui. E só então quando a conversa começou e percebi o que tinha perdido. Era uma mulher simples, que cresceu no seringal cortando seringa e fazendo látex, casou-se cedo demais, até aquele momento cuidava do marido que na juventude a traía sem nem mesmo fazer questão de esconder. Suas filhas haviam se casado muito cedo e sofriam o mesmo que ela nas mãos dos maridos, não estudaram e trabalhavam por uma remuneração muito baixa, mas acima de tudo ela disse que era feliz, que havia sofrido muito sim, mas que aprendeu a superar e tentar não lembrar das feridas que ainda não haviam cicatrizado.
Quando cheguei em casa perguntei a minha mãe sobre como era o meu avô. “Ah, o seu avô?” Ela perguntou rindo. “Seu avô era um homem incrível, ele sabia a hora exata só de olhar para o céu, acredita? Ele sabia qualquer coisa que quisesse saber sobre qualquer vulcão existente no mundo, ele adorava ler sobre vulcões. Ele era um mulherengo de primeira, se ele chegasse em um cabra e dissesse “hoje a sua mulher vai dançar comigo na festa!” não tinha para mais ninguém o cabra entregava a mulher e ia para casa cuidar dos filhos. Era um baixinho “arretado” e ligeiro que só ele, se ele dissesse “vou indo na frente” você não acompanhava mais ele de jeito nenhum. E te chamava de “Chico”, acho que ele queria um neto homem.”
E fiquei pensando sobre envelhecer... fiquei pensando sobre como nós “inutilizamos” as pessoas simplesmente por sua idade, que a afastamos do mercado de trabalho dando a elas um atestado de “inutilidade” chamado “aposentadoria”. Fiquei pensando sobre como nós não damos atenção à eles por não julgarmos importante o que eles tem a dizer, quando na verdade eles sabem muito bem o que dizem.
Não perdi meu medo de envelhecer, mas perdi o medo de ter histórias fantásticas para contar e lembrar, perdi o medo de me sentir tão viva quanto um adolescente. Eu descobri que envelhecer não me impede de sentir as coisas ou as pessoas, muito menos de sorrir e achar a um bom motivo para manter-se vivo. Muito pelo contrário, posso até mesmo afirmar que existem - e conheço -  idosos bem mais vivos e ativos que eu por aí, envelhecer não é parar de viver.



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