Foto: We Heart It |
Na
semana passada fui ao banco, o que por acaso detesto fazer, já que na maioria
das vezes o atendimento demora tanto que desisto e vou embora com o meu
problema embaixo do braço, mas dessa vez tive de ficar ou teria que enfrentar
outra fila daquelas para tentar novamente receber meu cartão.
No primeiro
momento já fechei a cara, a fila para entrar no banco tinha mais voltas que a
concha de caracol velho. Quase uma hora depois quando eu estava quase
conseguindo entrar no banco aquela porta giratória-traiçoeira apitou e bufei de
ódio. Revistaram minha bolsa e nada, eu já ficando impaciente quase batendo no
guarda e então finalmente saí daquela fila para entrar em outra.
Meia-hora
depois consegui ser atendida pela única atendente disponível, disse a ela o meu
problema, ela muito mal-humorada por sinal, pediu meu RG e CPF e disse que ia
olhar no sistema se meu cartão havia chegado, ou seja, eu esperaria mais meia-hora.
Fiquei impaciente
no balcão, tremendo a perna por causa da ansiedade e em um movimento super
natural passei a mão sobre o bolso da minha calça jeans e quase tive um ataque
ali mesmo ao perceber que meu celular não estava lá. Procurei na bolsa, nos
bolsos da bolsa e nada. Comecei então a olhar ao meu redor e eis que o vi, ele
tinha ficado atrás de mim o tempo todo, tinha até puxado conversa como quem não
queria nada. Só podia ser ele, deduzi.
O homem
atrás de mim, era um jovem negro usando uma camisa velha e uma bermuda de
surfista, com um capacete vermelho pendurado no braço e o boné virado para trás
como se fosse um rapper, ele sorria
para mim eu com certeza estava com uma baita cara de desesperada. Não agüentei,
gritei “meu celular sumiu”. Comecei a
olhar todo mundo torto. O homem atrás de mim perguntou “perdeu o celular?” e eu quase respondi: “Não você roubou!”, mas fiquei calada e me mandaram falar com um
dos guardas.
“Seu guarda”, eu
disse já chorando. “Meu celular sumiu.”
“Você não esqueceu de pegar ele quando passou
na porta e deixou no porta-objetos?”
“NÃO!” Teimei. “Entrei com meu celular aqui!”
“Ah, moça, assim fica difícil!”
“Como assim?”
Questionei ele na cara dura com todo mundo me olhando com os olhos arregalados.
“Então o senhor está aqui porque mesmo?”
“Olha moça...” ele
disse tentando ser o mais paciente e educado possível com aquela garota
histérica dentro do banco. “Se a senhora
esqueceu o outro guarda que fica lá na porta guardou, senão, eu não posso
ajudar.”
Fui na
gerência, o gerente me entregou o telefone e comecei a minha saga desesperada,
ligando para o meu telefone e na esperança de ele tocar alto o bastante para eu
apontar a cara do criminoso que tinha me deixado desesperada. O telefone
chamou... chamou... chamou... e nada. Então o rapaz que estava atrás de mim na
fila veio falar comigo outra vez, “E aí?
Achou?” ele perguntou com um sorrisinho que já estava me dando raiva.
Pensei então
comigo mesma, “esse cara me roubou e
ainda tá curtindo com a minha cara!” Desisti do telefone e o entreguei para
o gerente e pela expressão dele eu soube que estava com uma cara extremamente
desesperada.
“A
senhora já foi falar com o guarda da porta?” O gerente perguntou com
uma voz cálida e eu bufei. “Não seu
gerente, porque entrei com meu celular aqui!”
“Mas vá até lá assim mesmo, vai que a
senhora esqueceu né?” bufei outra vez, levantei, chorei, fiquei
pensando que meu celular foi um presente do meu namorado, que era um celular
caro demais para eu comprar outro, que tinha fotos e documentos e minha vida
quase inteira dentro daquele cartão de memória e que o fulaninho que tirou ele
de mim estava bem ali e eu não podia fazer absolutamente nada.
Finalmente
fui até o guarda da porta e só de me olhar ele já soube do que se tratava. “Foi a senhora quem esqueceu o celular?” Fiquei
com a cara no chão. Porém o pior para mim foi a vergonha. Logo eu que digo ser
a favor da liberdade de expressão que não me prendo a “pré” “conceitos”, que
sou a favor da diversidade, logo eu... e na primeira situação desconfio logo do
“neguinho” atrás de mim, só por que
ele puxou assunto, só por que ele se preocupou e tentou ser gentil, só por que
ele estava mal vestido e falava gírias, só por isso achei logo que ele tinha me
roubado.
É nessa
hora que procurei um buraco para enfiar a minha cara de tacho, mas tudo que é
ruim sempre fica pior, e o rapaz ainda veio falar comigo, “Você achou? Que bom! Sorte sua que ninguém pegou né?” e então a
minha cara rolou ladeira abaixo, eu pus as mãos no rosto e tive vergonha de
mim, por achar que eu estava livre logo desse preconceito, o preconceito de
raça-cor, por que eu já sofri preconceito por ser negra e sei exatamente como
dói, ser julgado pela cor, quando embaixo da pele tem sangue e o sangue de todo
mundo é vermelho, não tem outra cor para isso, todo mundo é igual.
Havia mais
de cem pessoas dentro daquele banco, havia mais de quarenta na mesma fila que eu, mas
eu não percebi isso, só vi o “neguinho”
atrás de mim puxando conversa, não desconfiei de ninguém mais por que todas as
outras pessoas estava bem vestidas o bastante ou por que não era negras. A esse
rapaz as minhas sinceras desculpas, a minha cara no chão e a minha vergonha.
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