02 julho, 2012

É difícil descobrir...



Foto: Quésia Mello

Sempre gostei de ler. Eu quase comia os livros didáticos que a escola doava. Minha mãe é professora, ou seja, sempre tive passe- livre para ficar mais tempo na sala de leitura. Ah, aquele cheirinho bom de livros novos, empoeirados e alguns até rasgados ou rasurados eu nunca vou esquecer. Lembro que passava horas trancada naquela sala enquanto minha mãe estava em sala de aula. Lia absolutamente qualquer coisa, livros de literatura, matemática, biologia, lia o que tinha, não era de escolher até por que a diversidade não era tão grande assim.Mas depois de um certo tempo os livros começaram a se repetir, decidi então escrever, - sobre os professores, alunos, flores, amores... bláh, bláh, bláh...-   alguns de meus textos são usados até hoje em aulas na escola onde estudei. Um dia desses quando fui até essa escola me impressionei com um texto meu sendo copiado para ser distribuído nas salas. Foi assim que escrevi contos que até hoje leio de vez em quando, fanfictions e até alguns livros, pequenos é claro, mas com histórias interessantes.Entretanto, não era sobre isso que queria falar, mas sobre a última entrevista que tive e que me relembrou aspectos importantes da minha formação como leitora. Lembro-me que certos livros eram raros em Xapuri, não por ser um município pequeno ou nada do tipo, mas por que as pessoas não eram educadas para tornarem-se leitoras e por isso adquirir um livro era considerado uma perca de tempo. Só havia leitura por obrigação, jamais a leitura foi colocada para os alunos como algo prazeroso, como fonte interminável de conhecimento próprio e do mundo, mas algo que você teria que fazer de qualquer forma se quisesse passar de ano e infelizmente tenho que acrescentar que até hoje é assim.Então voltando à entrevista, o entrevistador pediu que eu falasse sobre mim, do que gostava, como me via, meus interesses profissionais futuros e todas essas coisas que são perguntadas em uma entrevista. Disse então que sempre gostei muito de ler apesar das dificuldades e podem acreditar até mesmo preconceito eu sofri por preferir me perder na história incrível de um livro a sair para uma noitada. Falei ainda de como foi difícil para eu arranjar livros até ter internet em casa, já que não haviam bibliotecas na cidade e livros comprados pela internet tinham o frete muito caro... e no meio da conversa eis que o entrevistador me faz uma revelação.É difícil descobrir que sua cidade tem sim uma biblioteca e até projetos de expansão para a leitura como, por exemplo, uma biblioteca em um ônibus que pode ficar em várias locais da cidade e computadores com acervo incontável de livros que podem ainda contribuir para a formação social de adolescentes que nem mesmo sabem ler direito por que não são nenhum pouco incentivados.

É difícil descobrir que foram propostas reuniões e mais reuniões com a prefeitura da cidade para que seja colocado em prática um projeto que já existe e que nem mesmo precisa de investimentos da prefeitura ou nada disso, apenas um espaço disponível na cidade e participação ativa das autoridades locais para que o mesmo aconteça.  Entretanto todos esses apelos nem mesmo são atendidos e ainda é pior descobrir que os livros já existentes na biblioteca da cidade que está inutilizada, serão devolvidos por falta de uso.É difícil de acreditar nisso. Vamos ter que continuar saindo do nosso município por que nos dizem que somente na capital é onde há futuro, é o lugar onde as pessoas estudam, o lugar onde as pessoas conseguem um bom emprego e podem ser alguém na vida. Me contaram essa ‘história da carochinha’, mas nunca me contaram como não somos incentivados a ter senso crítico, como somos não incentivados a questionar ou mesmo lutar por nossos direitos, mas nos ensinam muito bem a empurrar as coisas com a barriga e deixar por isso mesmo.Por: Quésia Mello






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