20 julho, 2012

O Divórcio

Keep Breathing by Ingrid Michaelson on Grooveshark



Fonte: we heart it
Todo mundo sempre me dizia “Ah, larga disso, esse teu amigo, não é amigo de ninguém!”, mas eu continuava a insistir e dizia que não era verdade que você era sim um chato de galochas segurando uma mala sem-alça em uma ruela de barro vermelho, mas mesmo assim você compensava tudo isso com uma determinação que eu só conseguia ver em você, você tinha uma sagacidade e um cafuné que fazia no meu cabelo no fim da aula que não tinha quem botasse defeito.
Não importava o que diziam eu replicava, dizendo que pagava o preço e botava a minha mão no fogo. Mal sabia eu que minha mão queimava e que o preço que eu pagava estava muito acima da inflação.
A decepção começou quando você me acusou de hackear o “Orkut” da sua namorada que até hoje não sei se realmente existiu ou não passou de um fake. Eu sofri tanto, sempre prezei as minhas amizades e você devia ser a pessoa que mais sabia dessa minha condição no mundo inteiro por que era quase um irmão para mim, eu lutei, conversei e a gente se acertou. Graças a Deus parecia que ia dar tudo certo.
Fomos morar juntos e eu jurava de pés e mãos juntos que ia dar certo. Você era uma alma livre e de mente aberta com um espírito aventureiro de dar inveja em muitos pais de família, e eu caseira, meio domesticada e tão compreensiva de dar dó, não tinha como dar errado. Além do mais já tinha sido comprovado cientificamente que os opostos se atraiam não é? E a gente não podia ser mais oposto.
No começo tudo foram flores, não dava para ser mais clichê que isso. Porém a sua alma aventureira foi se libertando de forma desgovernada e comecei a passar as noites sozinha, em claro, preocupada sem nem mesmo saber em que clube, bar, ou na casa de quem você estaria aquela noite, você passou a não atender o celular e a minha compreensão já não tava lá essas coisas.
E foi então que a coisa toda degringolou de vez. A sua liberdade começou a parecer cinismo para mim e minha compreensão acabou por acabar, deixando um amplo espaço para a minha chatice, para a meu humor negro-ácido-irônico e minha total falta de tato. A coisa toda esfriou e acabou no temido divórcio. E quando você jogou a bomba em mim fiquei triste e envergonhada, não por que você ia embora, mas por que me senti aliviada e quase feliz por tudo ter finalmente acabado.
Fiquei pensando então como é impressionante a forma como as nossas expectativas podem se tornar tão frustrantes. Entretanto, acho que o lado bom do “fim” é isso não é? Criar outras expectativas, talvez apostar nas pessoas erradas novamente e desprezar as certas e quando cair olhar para os lados e fingir que nada aconteceu, se levantar e seguir em frente com um coração surrado no peito e muita força de vontade de viver correndo nas veias do seu corpo inteiro.





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