14 janeiro, 2013

O amor nunca chega na hora marcada


Give Me Love by Ed Sheeran on Grooveshark
Se alguém passasse na rua nem mesmo a notaria. Era apenas mais uma garota sentada à beira da calçada com um all star sujo e uma regata preta. Nas mãos um cigarro esperando para ser aceso, mexia nos cabelos tentando inutilmente arrumá-los, mas os ventos na tarde daquela quarta-feira faziam questão de o deixarem desgrenhados, mas ao contrário do que ela pensava isso a deixava ainda mais bonita.


Já estava sentada ali não sabia há quanto tempo, esperando-o. Naquela ligação às três da madrugada ele parecia realmente querer vê-la. Estava confuso e com a voz embargada, como se segurasse o choro dentro do peito durante toda a conversa. "Gosto de você." Ele disse, mas quando ouviu ela percebeu que ele havia dito isso mais para sí mesmo, ele se viu com algo nas mãos e não sabia o que fazer senão aceitar os fatos e tentar fazer alguma coisa com isso.
Ele não viria. Ela sabia disso. Desde o primeiro atraso de quinze minutos ela sabia que ele havia encontrado algo melhor para fazer. Talvez uma bebida com alguns velhos amigos, ou um sexo rápido com a vizinha, qualquer coisa que não envolvesse sentimentalismo barato em uma calçada na esquina de um bar vazio. Ele não viria. Como em todas as outras vezes em que disse que apareceria. Como em todas as vezes em que ligou de madrugada perguntando se ela podia arrumar um teto e um colchão para ele dormir, mas nunca apareceu para usá-los.
Queria entender porque 'diabos' não conseguia levantar-se, procurar alguém para acender seu cigarro, e ir fumando até o seu apartamento. Ela não era o tipo de garota que chorava ou comia chocolates e soverte enquanto assistia romances, como se isso fosse realmente aliviar alguma coisa dentro do seu peito magro. Não, ela não chorava. Ao invés disso, ia até sua coleção de CD's e pegava a banda com o heavy metal mais pesado que tivesse e colocava para tocar. Enquanto os as vozes ecoavam por seu apartamento ela cantava junto, exorcizando sua ira em palavras obscuras.
Duas horas e vinte e três minutos haviam se passado. Ele não viria. Respirou fundo, levantou-se devagar apoiando-se para forçar as pernas dormentes a finalmente saírem daquele lugar. Jogou o cigarro fora e fez um coque no cabelo. Limpou a ponta enlamaçada do seu all star e começou a caminhar devagar, no fundo sabia que ainda mantinha guardada no peito a droga daquela ponta de esperança de que ele apareceria, mesmo após quase três horas.
Após vinte minutos de caminhada chegou em casa. Puxou as chaves do bolso e subiu as escadas em uma velocidade tri-lenta. Lá em cima, sentado em frente à porta estava o seu sorriso preferido. Com uma das mãos dentro do bolso e o olhar perdido observando-a de perfil. "Você está atrasado." Ela disse e espremeu-se sentando ao lado dele antes que ele dissesse "eu sei."
"Sabe, às vezes me pergunto por que você me espera tanto?" Ele disse observando-a furtivamente. "A gente sempre espera que o amor chegue na hora marcada." Ela sorriu. "Mas o amor nunca é como esperamos não é? Ele sempre se perde em outros braços, sorrisos, desejos e frustrações antes de finalmente esbarrar com a gente em uma daquelas noites que você só quer ir para sua casa, se jogar na sua cama e abraçar seu travesseiro."

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